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HISTÓRICO FAMÍLIA BEVILAQUA NO BRASIL

  • REGIÃO DA SERRA GAÚCHA (Colônias Velhas)
                                  para
  • REGIÃO DO ALTO URUGUAI GAÚCHO (Colônias Novas)

                                                                       (Adiles T. Bevilaqua)


              Sempre que contamos aos nossos filhos as historias dos nossos antepassados, passamos a eles, os melhores sentimentos e os melhores ideais. Então, neste dia especial, queremos contar um pedacinho da história vivida por aqueles que nos antecederam.

              Comecemos por nos reportar à Europa, o país Itália - Província de Verona - Região do Vêneto - Cidade de San Giovanni Ilarioni - berço de nossos antepassados! Este, é lugar do inicio de uma historia - uma historia de coragem - a nossa historia!

              Cento e quatorze anos já se passaram, desde aquele fevereiro de 1896 em que nossos patriarcas Giovani e Catherina deixaram sua Patria, sua família, e em navios precários, lançaram-se em busca de melhores condições de vida e da dignidade que lhes era negada ali na sua terra.

              Foram 42 dias desde o embarque no Porto de Gênova até a chegada no Brasil no Porto do Rio de Janeiro. De lá - viajaram até a província de São Pedro do Rio Grande do Sul e então, partiram de carroça, puxada por mulas, rumo a Nova Bassano na Regio da Serra Gaucha numa viagem que durou 3 dias.

    Nossos patriarcas quando imigraram, já tinham 5 filhos:

              - Benedito - Crespín - Domingos -- Maria - um bebê de 9 meses de idade de nome Ernesto e que veio a falecer na viagem de travessia do Atlântico.

    Depois, aqui tiveram mais seis outros fihos:

              - um menino, a quem deram o nome novamente de Ernesto, em homenagem ao bebê falecido na viagem - os gêmeos Marcos e Ângelo - Elizabeta - Ângela e João

              Em Nova Bassano, receberam 10 alqueires de terras da então Província de São Pedro do Rio Grande do Sul. Aqui esses bravos emigrantes fundaram pedaços da Itália: Nova Roma, Nova Veneza, Nova Trento, Nova Bassano.

              Crescendo, os filhos dos patriarcas Giovani e Catherina, precisavam conquistar sua vida e as Terras Velhas, lá na Serra Gaucha, já não ofereciam mais espaço a esses filhos de imigrantes pois as mesmas já haviam se esgotado.

              Era mais um êxodo que começava, igual aquele de há 20 anos atrás, vivido por seus pais quando deixaram a sua pátria, a Itália.

              Atraídos então pela possibilidade de trabalhar na construção da Ferrovia São Paulo- Rio Grande, que é a estrada de ferro que corta nossa região e que hoje está desativada, e, já vislumbrando a obtenção de lotes de terras ao longo dos caminhos de ferro, aqui eles chegaram. A mão-de-obra barata dos colonos - nossos antepassados - e, o esgotamento de terras das Colônias Velhas, foram os dois fatores importantes na ocupação desta região. A isso foi aliado o objetivo da exploração da madeira, que servia tanto para a própria ferrovia como dormentes e lenha como combustível para as antigas máquinas de trem - as Maria Fumaça.

              Isso os fez sair por trilhas em meio do mato, a isolarem-se como ursos, enfrentando as doenças, as cobras, a falta de comida. Todo o sofrimento que seus pais haviam encontrado nos primeiros anos de sua chegada à América - eles sabiam que passariam tudo novamente - só em outra floresta. E este lugar aonde estamos hoje, foi o lugar que eles escolheram para para viver, para trabalhar, para criar os seu filhos, para receber os visitantes.

    1912! - 98 anos já se passaram! quase um século!

              1912 é o ano em que o primeiro Bevilacqua - filho do patriarca Giovani e Catarina - o Domingos - chega a esta localidade, montado em uma mula. Viadutos era então uma pequena vila com apenas seis moradores.

              Chegando aqui nesta localidade, o pioneiro Domingos, hospeda-se na casa de um dos seis moradores do então povoado de Viadutos. Este morador, o Munaro, que tambem vinha das terras velhas e aqui morava com sua família, mais tarde veio a ser o seu sogro.

              Depois, chegaram os irmãos Benedito e o Crespin que também vieram em busca de melhores condições de vida. Passam a morar os três, com suas famílias em uma mesma casa.

              Aqui, para ganharem o direito da posse da terra do governo Borges de Medeiros - eles- trabalhavam nas empreitadas, que eram atividades contratadas junto ao governo do estado para a abertura das primeiras estradas da região: trabalhavam com picaretas, machados, serravam dormentes - madeira que suporta os trilhos - tbem tiravam erva no meio do mato, e a vendiam canchada - tudo isso para juntar dinheiro e adquirirem mantimentos que eram o sal , açúcar, o café, a farinha. Isto foi de fundamental importância nos momentos iniciais de assentamentos desses colonos, pois disso derivavam boa parte do pagamento das colônias e da sobrevivência ate a chegada da primeira colheita.

              Benedito, mais tarde montou uma serraria nos arredores de Viadutos, depois veio a tornar-se sub-delegado da Vila de então Viadutos .Benedito mudou-se depois para o estado de Santa Catarina na região de Tangará.

              O Domingos morou sempre nesta localidade, exercendo a profissão de agricultor e fazendo o trabalho de colocar no lugar os ossos quando alguém sofria algum acidente, ele era "justa ossi", atividade mto comum na época.

              O Crespim morou a maior parte de sua vida aqui no nosso município, trabalhando na lavoura e quando já velhinho, mudou-se para a vizinha cidade de Gaurama onde vveu seus últimos anos com seus filhos que ali residiam.

              O Marcos, chegou aqui mais tarde já casado com a Vó Verônica e seu primeiro filho o Arduino. Marcos sempre residiu aqui em Viadutos dedicando-se ao trabalho da agricultura até o fim de seus dias - faleceu neste município e está enterrado no cemitério de nossa cidade.

              Ernesto chegou um pouco mais tarde e aqui morou por algum tempo, mudando-se depois para Quilombo - Sta Catarina e de lá retornando, vindo a residir no interior do município de Gaurama e por lá ficou até falecer.

              O João, de Nova Bassano, foi residir em Quilombo - SC e por lá sempre ficou.

              A Angela, saiu de Nova Bssano, casada com Ernesto Braganholo e fixou residência em Santa Catarina, no interior Do município de Joaçaba.

              A Maria que foi casada com o Antonio Dal Agnol ficou sempre residindo na região de Nova Bassano, vindo a falecer na localidade de Silva Paes.

              A Elizabeta - chegou a morar nos aredores de Viadutos, mudando-se depois para Tangará em Santa Catarina. Ela veio a falecer ainda jovem, em um acidente com um caminhão de toras, quando ia para o vilarejo de Tangará para comprar o luto - que era uma roupa preta usada pelo período de um ano, sempre que um parente próximo falecia. E o luto que Elizabeta ia comprar era pela morte de Benedito, falecido dois dias antes desse acidente.

              Na casa dos patriarcas Giovani e Catarina - lá na Serra Gaucha - ficou com eles, o Ângelo. A Matriarca Catarina veio a falecer no ano de 1916 e nove anos mais tarde, no ano de 1925, falece o Patriarca Giovani com 84 anos.

              A historia de cada um desses nossos avôs - os filhos do patriarca Giovanie Caterina - fica um pouco perdida pois cada um buscou sua vida em cada canto desta região e do estado de Santa Catarina que eram os lugares que lhes oferecia alguma possibilidade de prosperidade - as condições de adquirirem seu tão sonhado pedaço de terra que para eles representava a conquista da sua dignidade, de sua identidade como seres humanos.

              Nossos antepassados continuam vivos através de nós, seus descendentes que continuamos sua historia através da formação de novas famílias. Continuam vivos nas muitas historias vividas por eles - historias como aquela que nos deixava com os olhos arregalados e com um nó na garganta, quando lembravam a grande tristeza que foi ver o seu irmaozinho falecer na travessia e que ter que ser jogado ao mar, envolto em panos e amarrado em uma tabua. Ele não pode ser sepulto em terra pois a ilha mais próxima - a Ilha das Flores - ficava ha dois dias de onde eles se encontravam - como foram dramáticos aqueles "42 giorni de machine e vapore..."

              Muitas foram as historias vividas por eles, muitas se perderam para sempre no tempo!

              Hoje - não somos mais só os Bevilacqua -- descendentes de Giovani e Catarina Demarni Bevilaqua.

              Somos as muitas famílias miscigenadas com alemães, poloneses, portugueses, espanhóis e muitas outra etnias que formam hoje um grande núcleo que é a Familia Bevilacqua e da qual muito nos orgulhamos.

              Nossa gratidão, e nossa prece de carinho aos nossos antepassados!

              Nosso tributo às mulheres imigrantes - figuras quase anônimas !

              Nossas "nonas" - heroínas - mulheres, companheiras, força quase invisível - acompanhando seus maridos sempre e em tudo! Muitas vezes, abrindo mão de seus sonhos - fieis em seus valores, e como elas envelheciam precocemente! Elas - na sua simplicidade e nas precárias condições de que dispunham sabiam tornar mais humana e mais doce a vida tão difícil naquela época.

              Para as nossas nonas - hoje, toda nossa gratidão e reconhecimento pelo tanto que elas representam na construção de nossa historia.

              Nossa gratidão aos idealizadores e aos organizadores desses encontros - nossa prece de amor à memória do Ozebio, que antes de partir para a casa do Pai, deixou plantada essa semente, esse desejo de reencontro e aproximação.

              Aos que mantém viva essa idéia e continuam promovendo, apesar da dificuldade que sabemos é reunir tão grande numero de familiares, a todos eles, nosso reconhecimento.

              Nosso pedido aos nossos filhos - e às gerações que nos sucederão:!

              Não permitam que a história se perca no tempo - ela nos identifica, ela fala de nós e assim sendo ela é a historia de vocês - não permitam que esse tempo que estamos vivendo hoje fique no esquecimento e vá ficando sem importância na correria louca de nosso dia a dia que os filhos de vocês - nossos netos, bisnetos possam conhecer seus ancestrais através da memória contada e registrada em algum lugar e de alguma maneira.

              Que a história vivida por eles no passado e por nós todos hoje, sirva de luz a nos guiar e a nos identificar nos caminhos das nossas vidas.

              Como foram corajosos os nossos antepassados! - e como trabalharam, e como foram nobres na sua simplicidade!

              Eles nos deixaram uma herança que está acima de qualquer bem material - eles nos deixaram o seu onore - a sua honra, a qual guardamos e queremos passá-la aos nossos filhos!

              Eles foram grandes sonhadores, foram portadores de uma fé e de um caráter sem igual - eles não tinham quase nada - não tinham riquezas, não tinham fartura mas tinham esperança, tinham sonhos , tinham coragem!

              E tinham apenas as estrelas para contemplar!


    © Família Bevilacqua